Trabalhadores da EDP em luta contra a precariedade

Frequentemente tentam vender a ideia de que os trabalhadores em condições precárias não podem lutar porque, como a instabilidade é grande, a sua disponibilidade para a luta é menor. Esta é uma ideia errada e que é necessário combater.

O processo de luta dos trabalhadores dos call-centers da EDP em Lisboa, subcontratados à Randstad, é exemplo disso.

Começou com um pequeno grupo de trabalhadores, com o apoio do sindicato (o SIESI), a discutir, há alguns anos, em cafés e depois numa sala em Odivelas, a situação na empresa e o que fazer para a inverter. Elegeram-se delegados sindicais, e deram-se passos significativos no desenvolvimento da luta contra a precariedade, os baixos salários e a repressão dentro da empresa.

Hoje fazem-se plenários dentro da empresa com quase a totalidade dos trabalhadores (mais de 1500, a maior parte jovens), as concentrações e greves somam-se e atingem valores acima dos 85% de adesão. Pelo meio foi conquistado o aumento do subsídio de alimentação, no início deste ano, e conquistados outros direitos.

Este é um exemplo de que a precariedade não é inevitável, o que é inevitável é a luta que os trabalhadores desenvolvem e que irá pôr um fim a este flagelo.

A precariedade no trabalho é a precariedade da vida. Todos os dias é-nos apresentada como uma inevitabilidade. Mas é possível combater as intenções do grande capital de concentrar lucros à conta dos trabalhadores, aumentando a exploração e o empobrecimento, e, passo a passo, defender e conquistar mais direitos.

Iris Santos, Operadora de Call Center, explicou-nos o papel dos sindicatos no dia-a-dia deste trabalhadores, como estes se organizam e lutam e os direitos que têm vindo a conquistar.

Qual é o papel do sindicato no meio das situações que têm sucedido? Qual a posição do SIESI sobre a subcontratação dos trabalhadores através de empresas de trabalho temporário como a Randstad?

O sindicato, o SIESI, nos últimos 5 anos tem tido um papel importante, é fundamental na vida dos trabalhadores. Foi imprescindível para se conseguir manter todos os trabalhadores na transição da CRH para Rabdstad, garantindo que não se verificassem despedimentos e perda de direitos. Está presente e apoia os trabalhadores que são confrontados com despedimentos infundados, bem como tem estado sempre presente para mobilizar os trabalhadores em torno dos seus direitos, como a luta contra a precariedade, pelos aumentos salariais. Em tribunal, o sindicato já ganhou 2 casos contra a empresa. Com a ajuda do SIESI já tivemos um aumento de salário. Para além de tudo isto, tem sido fundamental para resolver conflitos entre os trabalhadores e a empresa, garantindo sempre os direitos dos trabalhadores, ajuda-nos a esclarecer dúvidas variadas relacionadas com os direitos dos trabalhadores-estudantes, os direitos de parentalidade, etc.

Como se deu a organização dos trabalhadores no sindicato? Há muitos sindicalizados? E estão envolvidos na luta?

O SIESI, através de vários meios, expondo à comunicação social, aos grupos parlamentares, à ACT tenta diariamente fazer ver aos patrões da EDP que não faz sentido a precariedade destes trabalhadores, e que esses tipos de contratos nada têm de temporários, porque os trabalhadores ocupam funções permanentes, alguns dos meus colegas têm mais de 20 anos de casa.

O sindicato sempre teve presente nos nosso centro de contacto e desde a sua criação, segundo sei, foi crescendo e em 2011, elegendo delegados e dirigentes sindicais. O processo da insolvência da CRH credibilizou muito o sindicato e houve um auge de sindicalizações. Com a união dos trabalhadores ganhamos forças e é assim conseguimos manter e defender as nossas condições de trabalho.

Qual é a importância de os jovens se sindicalizarem num sindicato de classe e lutarem pelos seus direitos?

Como em todos os centros de contacto, há cada vez mais jovens trabalhadores em todos os sectores, que desconhecendo os seus direitos, não sabem que podem agir para exigirem mais e melhores condições, mas com força de vontade de conhecer e melhorar as condições contratuais.

Sabias que…

 a EDP tem lucros de milhões todos os anos mas subcontrata trabalhadores a empresas de trabalho temporário como a Randstad para reduzir despesa, fugir à contratação colectiva e desresponsabilizar-se dos seus trabalhadores?

a Randstad ofereceu 0,03€/dia de aumento este ano a estes trabalhadores?

o Presidente da EDP, Pedro Mexia, ganha 7.000€ por DIA, enquanto um operador de call-center ganha o mesmo num ANO?

  os jovens trabalhadores deram um contributo decisivo para o desenvolvimento da luta com a sua eleição para delegados e dirigentes sindicais e envolvimento nos processos de luta?

com a luta já conquistaram vitórias como o aumento do subsídio de refeição no início deste ano?