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#CAPITALISMO NÃO É VERDE

A obsolescência programada, por definição, é a decisão do produtor de propositadamente desenvolver, fabricar, distribuir e vender um produto para consumo de forma que se torne obsoleto ou não-funcional, num curto espaço de tempo, especificamente para forçar o consumidor a comprar a nova geração do produto, e assim manter e aumentar as suas taxas de lucro.

Conceito aplicado pela indústria de lâmpadas desde os anos 20 do século passado, a “obsolescência programada” é hoje tema relevante para a reflexão sobre consumo, tecnologia, e os seus impactos no meio ambiente.

Desde a Revolução Industrial, a relação entre consumo, indivíduo e sociedade tem sido uma das principais discussões, que procura entender e explicar como o então novo modo de produção transforma e afecta a sociedade moderna. Com a produção em massa, surgia também a necessidade da indústria de conhecer melhor o perfil dos seus consumidores e, principalmente, de criar maneiras para incentivá-los a comprar cada vez mais, de modo a satisfazer as necessidades sempre crescentes do novo sistema. Foi na década de 1920 que a indústria de lâmpadas decidiu então aplicar o conceito de “obsolescência programada” na linha de produção, o que reduz a vida útil dos produtos para que o consumidor tenha de trocá-lo com mais frequência. (in Braga, Júlia “Goethe Institut Brasilien” 2012)

O modo de produção capitalista está em permanente confronto com os limites físicos de um planeta que, sendo generoso em recursos, é finito.A constante redução do tempo de vida dos produtos é uma manifestação deste confronto.

Um sistema que, ou cresce e acumula ou morre, não é sustentável.

Perante esta evidência, há quem queira agora dar-lhe (ao siste- ma) um banho purificador no caldeirão da mirífica circularidade. A dita economia circular não é a panaceia que alguns querem fazer dela.

A conversão de resíduos em recursos pode ser maior ou menor, mas nunca é total, tão pouco suficiente para as necessidades de sobreprodução do sistema.
Ora, se há 100 anos o debate entre as grandes empresas que detinham o monopólio de produção lâmpadas era reduzir o seu tempo de vida útil para metade, utilizando materiais de fraca qualidade, e daí obrigar os consumidores a comprar mais vezes lâmpadas, hoje o cenário é outro. Há cerca de um ano a gigante Apple admitiu que abrandava os seus equipamentos através de atualizações, justificando que era para aumentar a duração da bateria, mas o que na verdade era o seu objectivo, era levar os consumidores a descartarem-se dos seus equipamentos mais depressa. ( in: https://www.dn.pt/media/e-mesmo-verdade-a- apple-torna-os-iphones-mais-lentos-9001804.html)

No capitalismo globalizado actual, em que as grandes multinacionais investem milhões em novos e inovadores produtos que saem a uma velocidade nunca antes vista, em que as empresas produtoras não promovem a substituição de peças e a reparação dos produtos, sendo muitas vezes mais barato comprar novo do que reparar e em que essas mesmas empresas promovem propositada e deliberadamente a obsolescência dos seus produtos, em que a gestão do lixo informático é um problema com proporções gigantescas. É imperativo delinear e implementar medidas concretas que promovam a durabilidade e a reparação dos bens ditos duradouros.

A produção não pode estar ao serviço de lucros infindáveis, em que o caso mais gritante deste problema será mesmo o dos telemóveis e outros equipamentos informáticos, que ao fim de 2 anos (data que corresponde com o fim da sua garantia comercial), começam a dar os seus problemas de não actualização de software, de memória saturada, ou ainda de baterias viciadas que não carregam. Estes casos, que não são únicos, obrigam os consumidores a descartar o seu aparelho, que, contendo materiais de muito difícil e dispendiosa reciclagem, acabam geralmente em aterro.

Posto isto e num quadro de grandes e complexos problemas ambientais, importa contrariar as soluções do capital, que não farão outra coisa que não multiplicar as desigualdades regionais e sociais, e acelerando a predação da Natureza.

Para combater a obsolescência programada é preciso planificação e gestão criteriosa dos recursos naturais e não uma economia guiada pela finança e pelo lucro.

É preciso investir na produção nacional no sentido da produção de aparelhos com mais tempo de vida útil, tal como o desenvolvimento tecnológico propicia, com a disponibilização e possibilidade da troca de peças e uma efectiva redução, reutilização, e reciclagem dos aparelhos em fim de vida útil.