CAMPANHA DE JOVENS TRABALHADORES DA JCP NO PORTO Trabalho não é um privilégio, é um direito
03-Mar-2005
Fábricas, centros comerciais e escolas com ensino nocturno do distrito do Porto têm sido visitadas por grupos de militantes da JCP, no âmbito da campanha de Jovens Trabalhadores. A recepção é boa, porque há uma identificação com os temas abordados e as propostas apresentadas. Ricardo Santos, José António Moreira, Gonçalo Pereira e João Tiago Silva participam regularmente na campanha de esclarecimento da Organização dos Jovens Trabalhadores do Porto, lançada em Novembro, junto a um centro de emprego em Vila Nova de Gaia. A escolha do local não foi inocente, pois um dos principais objectivos é contactar 7500 jovens trabalhadores e desempregados do distrito, abordando duas questões: o trabalho precário e o desemprego. Estes são, de facto, dois grandes problemas num distrito onde o desemprego aumentou 63 por cento nos últimos dois anos. Dos 500 mil desempregados que existem em Portugal, 200 mil residem no Norte do País. Diversas fábricas, centros comerciais e escolas com ensino recorrente foram visitadas pela JCP, distribuindo panfletos com o lema «Basta! Somos trabalhadores, não somos escravos!». O documento aborda problemas específicos do distrito e de locais de trabalho e apela à sindicalização dos trabalhadores como forma de luta pelos seus direitos. «As pessoas vêem que falamos sobre a sua situação e identificam-se com o que lêem», refere João Tiago Silva. «Há muita gente que desconhece os seus direitos e este documento dá muitas informações sobre vários assuntos, nomeadamente os contratos de trabalho», acrescenta José António Moreira. «Procuramos transmitir que ter um emprego não é um privilégio, é um direito. As pessoas têm de trabalhar, têm de ter uma fonte de rendimento. Sem os trabalhadores não há produção. Os trabalhadores precisam de um emprego, mas os patrões também precisam deles», explica, por sua vez, Ricardo Santos.


Dedicação e militância

O balanço do trabalho desenvolvido até agora é positivo, até porque, em geral, a recepção tem sido boa. «É que nós somos trabalhadores também, estamos em pé de igualdade com as pessoas a quem nos dirigimos. Há uma abordagem no documento e no contacto directo que se proporciona e as sensibilidades que se têm recolhido vão ao encontro das reflexões do Partido. E dão-nos mais informações, o que é muito importante», adianta João Tiago, admitindo que a organização tinha um défice de conhecimento de problemas concretos em algumas empresas do distrito. «Continuamos com insuficiências, não temos dúvidas em relação a isso, mas demos alguns passos e temos recolhido informações muito válidas», acrescenta, referindo ainda os novos contactos feitos em diversos locais. O documento foi elaborado com camaradas de quase todos os concelhos do distrito do Porto. A ajuda do militantes do PCP tem sido importante, mas, como afirma João Tiago, «começamos a ter pernas próprias para andar e identificar as empresas prioritárias, as que têm trabalhadores mais jovens». O fim da campanha está previsto para final de Março. Para depois prevê-se a distribuição de outros panfletos sobre os problemas de cada local de trabalho, como forma de intervenção local, afirmação da JCP e das suas propostas e continuação do trabalho de contactos e de esclarecimento agora desenvolvido. «Queremos trabalhar de uma forma mais contínua e criar “pontas” em empresas, o que também terá frutos nos recrutamentos», salienta João Silva.


Tem aí mais panfletos para os colegas?

Como se faz uma distribuição de panfletos da JCP num centro comercial cheio de seguranças em alerta? O objectivo é fazer chegar o documento às mãos do maior número de funcionários possível e procurar passar a mensagem. Não se trata de um jogo de computador, mas de uma missão real e importante, pela mensagem e a informação que é transmitida. Em primeiro lugar, há que tentam conciliar os horários dos militantes para fazer a distribuição de manhã, numa hora em que haja poucos clientes, para que haja oportunidade para manter uma conversa. Segundo, é preciso ser prevenido e levar os papéis num saco para se tornarem discretos. Depois é apenas confiar na experiência e na força dos argumentos. Entram numa loja, dirigem-se ao balcão e aí tiram o panfleto e dão-no à mão do trabalhador. Depois perguntam quantas pessoas trabalham ali e se podem deixar documentos para o resto dos colegas. «No Norte Shopping, foi um trabalhador que pediu para deixar mais documentos para os funcionários que não estavam presentes», recorda João Tiago Silva.

Uma força diferente

«Há aquelas pessoas que ficam contentes por nos ver e que até comentam: “Olá, cá estão outra vez!” Reconhecem que somos praticamente a única organização que se interessa pela situação deles. Nas lojas mais pequenas podemos conversar um bocadinho com as pessoas; nas maiores, tipo Zara, é mais complicado até porque os empregados têm medo de aceitar os folhetos sem falar com o gerente», conta Ricardo Santos. Mas nem sempre é assim. «Numa loja no Norte Shopping, não queriam aceitar. “Aqui não há comunistas”, disse um empregado. Nesses casos, com calma, explicamos que o documento é só para ler, que não tem doenças. As pessoas têm dificuldade de entender que estamos ali por elas. Pelo menos vêem que estamos lá e, quando se queixarem de alguma coisa, não podem dizer que ninguém se importa. Só isso já é um ponto positivo. Mas uma pessoa que à partida não está receptiva muito dificilmente muda a sua opinião só com um documento. Mesmo entrar em diálogo, nesses casos, é difícil», explica. Receber respostas deste tipo não é fácil nem agradável, mas todos sabem que isso pode acontecer. «Se formos abaixo com estas coisas, não podemos ser comunistas. As dificuldades são intensas em todos os aspectos. Há uma descrença muito grande na política e no que fazem os políticos e há tendência para a generalização. Isso também afecta os jovens. Mesmo os que são interessados, deixaram de acreditar. Parte do nosso trabalho é mostrar que não é bem assim, que há pessoas que se preocupam com eles e que efectivamente há pelo menos uma força diferente», acrescenta Ricardo.


Aceitar ou não aceitar?

Em muitos locais os trabalhadores estão condicionados pela empresa na aceitação dos panfletos. Por isso, «muitas vezes nem podemos avaliar bem a receptividade», comenta Gonçalo Pereira. «Na Fnac de Santa Catarina têm orientação para não receber propaganda e explicam-nos que não aceitam para não arranjar problemas. Há casos destes noutras empresas e em muitas pode não haver uma orientação formal, mas há pressão.» Na porta das fábricas, um dos problemas é chegar aos trabalhadores, pois a maioria é transportada em carrinhas directamente para dentro do perímetro da empresa. «Vemos passar muita gente, mas não lhe conseguimos chegar», lamenta João Tiago. Para José António Moreira, o condicionamento psicológico começa nos contratos de trabalho. «Se estão a prazo, estão condicionados. Por exemplo no Jumbo, há contratos em que o trabalhador se compromete em não se sindicalizar. Isso não tem valor legal, mas é uma pressão.» «Há casos de patrões, que têm declarações dos trabalhadores de rescisão de contrato sem data, assinada na mesma altura do contrato, e que podem usar quando quiserem. Fica guardadinha no cofre e quando alguém pergunta se os trabalhadores “levantam problemas”, eles respondem: “Eu tenho-os a todos aqui guardados.” Isto acontece muito na área das madeiras, em Paços de Ferreira, por exemplo.»


Mostrar como o PCP é diferente

Até às eleições legislativas, o apelo ao voto na CDU surgia naturalmente nas conversas dos militantes da JCP com os trabalhadores: «Para que a nossa luta avance, não se esqueça de votar no dia 20 na CDU» era uma das frases mais comuns. Durante a entrevista, feita em plena campanha eleitoral, foi abordada a possível a concretização do lema da Juventude CDU, «Leva a luta até ao voto». Os quatro militantes da JCP lembram que muitos dos trabalhadores que se envolveram em lutas sindicais nos últimos anos não votam de acordo com as suas reivindicações. «É uma questão ideológica. O pensamento que domina é o da classe dominante. Da luta sindical até a uma evolução ideológica vai um caminho muito grande», adianta Gonçalo Pereira. Ricardo Santos considera que a comunicação social tem uma parte da responsabilidade, porque muitos eleitores pensam só têm duas opções, o PS e o PSD. «Depois há a questão da descrença na política, que leva à abstenção. Há muita gente que também tem memória curta e que se esquece de quem esteve ao seu lado nos momentos difíceis, quem os ajudou e quem lutou por eles. Mas temos que ver que o sistema está viciado e a possível reforma eleitoral serve para aumentar o desinteresse dos eleitores, para que não votem e não participem. O nosso trabalho passa por mostrar que há alternativas a isso», defende. José António Moreira critica a «memória curta»: «Os portugueses parece que são masoquistas: o PSD está mal, mudam para o PS e vice versa. E não saem disso! Depois há pessoas que se abstêm, completamente descrentes. A abstenção é também um dos nossos grandes inimigos.»

O povo que temos

João Tiago Silva aconselha uma «atitude descomplexada» nos contactos com a população. «Este é o nosso povo, são os nossos trabalhadores, que passam grandes dificuldades, pagos com salários baixos ou à procura de emprego», diz. «O voto na CDU e no PCP é um voto mais consciente, mais de classe. Podemos ganhar mais gente para isso, também no grupo de descrentes. Não entendemos a política de uma forma burocrática, mas sim revolucionária. Como é que alguém não se desilude com este sistema?», questiona. «Quando alguém me diz que não gosta da política, eu respondo: “Por eu também não gostar deste sistema e de como as coisas são feitas é que eu sou do PCP.” Foi essa revolta e uma necessidade de me distanciar dos outros partidos que me fez ver que o PCP era diferente. Não gosto dos outros, mas deste sim, este é o meu Partido, que defende os meus direitos e que luta ao nosso lado. É importante esta atitude descomplexada quando vamos à conversa, porque esta gente é a mesma que é explorada, que vai no autocarro cansada e apertada, que é vítima do sistema... É o povo que nós temos e por isso temos que continuar na luta. Eles queriam era que desanimássemos, mas não vamos dar este gosto ao patronato e à direita», sublinha João Tiago.


Dedicação e Militância

Os militantes de todos os concelhos estão envolvidos nas distribuições, num esforço de descentralização, mas conciliar os horários dos vários militantes envolvidos – também eles trabalhadores – não é tarefa fácil e muitas vezes implica sacrifícios pessoais. «Para fazermos uma distribuição na Yasaki em Gaia, um camarada, que tem turnos nocturnos, fez uma directa», lembra João Silva. «Há muitos exemplos de dedicação e de militância, grandes valores na JCP. Temos de encarar as dificuldades e as falhas de uma forma pragmática e realista, mas, estando conscientes disso, temos a certeza da importância deste trabalho, da JCP estar nas empresas, afirmando-se como uma organização de classe, de falar com os trabalhadores, de procurar esclarecer e procurar aprender. É um trabalho difícil, mas não estamos dispostos a fazê-lo», acrescenta. No interior do distrito, as distribuições são feitas de uma forma diferente, adaptando-se à realidade local. E, se as dificuldades não são poucas na cidade do Porto, nas localidades mais pequenas estas aumentam, nomeadamente por «falta de mãos». «Mas existe um grande potencial de desenvolvimento do trabalho, porque aí a maioria dos militantes da JCP são trabalhadores. Muitas vezes temos de recorrer à organização central, no Porto, para nos auxiliar nas distribuições», conta Gonçalo Pereira. «No interior do distrito, a situação não é alarmante, já é dramática, também com o trabalho infantil. Muita gente deixa a escola e começa a trabalhar porque não tem opção, tem de ser...», refere João Silva.

in Avante!, Nº 1627, 3 de Março de 2005

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