CAMPANHA DA ORG. DOS JOVENS TRABALHADORES Informar e aumentar votação
27-Jan-2005
O que faz uma enfermeira, um electricista, um engenheiro e uma optometrista à entrada de uma obra em Lisboa, às 7h de uma manhã fria? Uma distribuição da JCP no âmbito da campanha nacional de informação dos jovens trabalhadores.

São sete da manhã de segunda-feira. Estão 5 graus em Lisboa. Junto ao Centro Comercial Vasco da Gama o nevoeiro passa devagar, tão espesso que não deixa ver a estação do Oriente, escassos metros à frente. Os faróis dos automóveis cortam o escuro. Rapazes de boné na cabeça e mãos nos bolsos atravessam a rua, a passo rápido. O cenário é de ficção científica. Apenas um grupo de militantes da JCP, à porta de uma obra de construção civil, mostra que se trata de uma real e dura manhã de Inverno.

Três altos guindastes indiciam uma grande obra. Vão entrando operários: jovens africanos, eslavos de meia idade, portugueses pouco sorridentes encolhidos nos seus casacos. Estendem a mão para receber os panfletos da Organização dos Jovens Trabalhadores da JCP, dirigidos para o sector, abordando algumas medidas do Código do Trabalho e problemas específicos dos operários da construção civil.

À noite, em entrevista ao Avante!, Isabel Barbosa, Andreia Pereira, Alexandre Neto e Nuno Vieira falam sobre a sua experiência na distribuição no distrito de Lisboa. «A construção civil é provavelmente a área mais marcante. Primeiro, ninguém liga a estes operários. Estarmos ali, preocupados com os problemas específicos deles, revela muito de nós e toca muito neles», afirma Isabel Barbosa. As questões frequentemente mais levantadas relacionam-se com a remuneração e o tempo de trabalho.

«Na semana passada, a fila para entrar para a obra, iam lendo o papel e comentavam entre eles e connosco. Identificavam o elemento da JCP, diziam que a vida está difícil, alguns que há que lutar. A alguma resignação com a situação actual tentamos responder que é possível alterar as coisas, melhorar a situação e que isso só é possível com a luta. Agora abordamos também a questão da votação na CDU. Com as eleições, esta campanha deixou de ser apenas uma questão de esclarecimento para passar também a levar as pessoas a votar na coligação», adianta Alexandre Neto.

Ser mais ambiciosos

Os militantes da JCP verificam que as reacções variam nos vários locais visitados. «No Centro Comercial Colombo a aceitação foi muito boa, acabamos os documentos num instantinho. No Corte Inglez, os trabalhadores não têm a mesma consciência de classe, talvez pelas próprias características do local de trabalho. Se fores a uma loja da Lacoste ou a uma dos trezentos, as pessoas que lá trabalham são diferentes. Podem ter o mesmo ordenado, mas têm outro estatuto e vêem as coisas de outra maneira», referindo Isabel.

As histórias multiplicam-se à medida que as distribuições aumentam. Na TMN havia pessoas a pedir documentos nas janelas. No Centro Vasco da Gama uma empregada da limpeza colocou uma questão sobre o horário laboral. Alguns demonstram algum receio. «Essa senhora, por exemplo, afastou-se da porta para falar connosco para o segurança não a ver», comenta Andreia Pereira.

Uma conclusão é fácil de tirar: o trabalho é mais fácil e a receptividade é maior nos locais onde existem células e colectivos da JCP ou do PCP, como é o caso da PT. «O trabalho e as propostas são reconhecidas», explica Andreia. «É mais produtivo e as pessoas vêem quem está do lado delas, fora do período de eleições. Quando estes documentos foram preparados nem sabíamos que ia haver eleições», acrescenta Isabel.

Ainda é cedo para fazer um balanço das distribuições, até porque ainda não acabaram, mas o trabalho realizado até aqui é bom. «Quando começámos não pensei que conseguíssemos distribuir os documentos tão bem e chegar a tanta gente. A aceitação foi muito positiva. E serviu para reforçar a nossa organização», diz Isabel. Nuno acrescenta: «De um diálogo simples tiramos sempre algum proveito.» «Temos de continuar a discutir, a aprender mais sobre o Código do Trabalho por exemplo. Outra conclusão é que temos de ser mais ambiciosos. Nós conseguimos contactar as pessoas e somos bem recebidos, agora temos de fazer mais distribuições, chegar a mais pessoas, fazer recrutamentos e vender Avantes», conclui Alexandre.

O cara a cara tem melhores resultados

Quando se levantam umas horas mais cedo do normal para ir para o trabalho, pensam se vale a pena? A pergunta impõe-se. «Eu nem penso... Se fosse para outra coisa não me levantava, mas como é para isto...», conta Isabel Barbosa.

«Vale a pensa, senão não fazíamos. Não vamos para um sítio só porque está marcado na agenda. Nalguns sítios ficam contentes por nos ver: “Tiveram de se levantar cedo!” Dão valor a isso. Mesmo que não votem na CDU, as pessoas ficam mais esclarecidas sobre os seus direitos, conhecem as nossas propostas... e é pouco a pouco que lá chegamos. Se não fizermos nada, se nos limitarmos aos outdoors ou a outras formas menos directas de chegar à população, mais dificilmente as pessoas ficam conscientes», diz Andreia Pereira. Alexandre Neto afirma que, quando acorda, sente que vai ter uma experiência enriquecedora a nível pessoal e político. «Depois das distribuições sinto-me melhor preparado para as próximas iniciativas e com mais força. Nestas alturas podemos responder que os partidos não são todos iguais, mostrar o trabalho que temos feito, dizer que estes governos e estas políticas estão gastas, que estamos dispostos a trabalhar ao lado deles. É completamente diferente estar cara a cara com as pessoas ou comunicar através da televisão ou dos outdoors», acrescenta.

Nessas conversas constata-se que, de facto, as ideias e os argumentos da JCP e do Partido fazem sentido, mesmo para aqueles que à partida as recusam. É uma questão de dialogar e apresentar raciocínios a partir da realidade.

«As pessoas apercebem-se que estamos do lado certo», refere Andreia. «Concordam com as nossas propostas, mas muitas vezes verifica-se uma certa desmotivação para a luta, pensar que não é possível... Isso mostra que temos de continuar a esclarecer, a pedir uma oportunidade ao PCP e a apelar ao voto», declara Alexandre.

in Avante!, Nº 1626, 27 de Janeiro de 2005

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