BES... Banco novo, histórias antigas... os mesmos de sempre a enriquecerem às nossas custas
18-Ago-2014
Não há muito tempo, há pouco mais de vinte anos, as coisas eram bastante simples para quem olhasse para a comunicação social dominante e para o que diziam os governantes da política de direita. Havia qualquer coisa de triunfal no discurso das classes dominantes. Cavaco ouvia dos dirigentes da CEE grandes elogios ao “exemplo” de Portugal, que era chamado por esses senhores como “a Califórnia da Europa”. Tudo era simples: na esteira da política iniciada com Mário Soares, havia que privatizar “tudo o que mexesse”, e dessas privatizações surgiria um oásis californiano: com a privatização, com o aumento da competição, do mercado, os preços iriam baixar, a economia iria florescer, e todos poderíamos contemplar a estética perfeita dos equilíbrios da oferta e da procura; Com os fundos comunitários, deixaríamos de ter agricultura para passar a ter “turismo rural” (que soa bem melhor), deixaríamos as pescas para passar a ter praias cheias de turistas de toda a Europa, que cá deixaríam as suas pesetas, francos, marcos, euros mais tarde; em vez da indústria, passaríamos a ser um país de serviços, de know-how, de economia do conhecimento.

Privatizar era então o caminho para acabar com a então chamada “ineficiência do Estado”, pois estava claro que só as empresas privadas podem fazer uma gestão cuidada e rigorosa do dinheiro, muito dificilmente alguma grande empresa poderia chegar à implosão...

A liberalização da Economia era o caminho, a salvação, o dogma. Nada podia falhar.

Hoje, onde está o neo-liberalismo triunfante? Onde está a Califórnia da Europa, e o seu Aníbal Schwarzenegger?

Depois do Banco Privado Português, do BPN, dos milhões injectados no Millenium BCP, assistimos nos últimos meses a mais uma derrocada, mais uma estragação de dinheiros públicos, mais um banqueiro que se afunda mas que, pela mão do Governo PSD/CDS, é salvo pela bóia dos contribuintes. Nesta negociata o Governo injectou 3,5 mil milhões de euros em empréstimo, 3,9 mil milhões num “fundo de resolução” e mais 3,5 mil milhões num fundo de emergência. Ao mesmo tempo que o Estado expõe mais de 10 000 milhões de euros dos contribuintes, congratula-se por os outros bancos contribuirem com 600 milhões de euros para o “resgate”. Feitas as contas, o Estado expõe 17 vezes mais do que os outros banqueiros, para “salvar o sistema financeiro português”, e os principais interessados nessa “salvação” contribuem com umas migalhas e ficam bem na fotografia.

Esta crise do BES demonstra ainda, mais uma vez, que a conversa de que “não há dinheiro” e que é preciso fazer cortes nas funções sociais do Estado e nos salários da administração pública são uma mentira em toda a linha. Cada vez que o dizem, insultam a inteligência dos portugueses, insultam o país, ofendem a nossa dignidade. Então cortam 14 milhões no Ensino Superior porque “não há dinheiro”, deixando ainda pior a já insustentável situação das instituições de ensino superior, muitas delas em risco de fechar, mas têm 3500 milhões para pôr directamente no “Novo Banco”, sem quaisquer garantias (conhecendo nós o “velho” banco BES)?

A história do BES é uma história antiga. O banco protegido do fascismo, um dos alicerces do regime de Salazar. O banco que é nacionalizado por força da luta dos trabalhadores, ficando durante vários anos ao serviço do desenvolvimento do país. A fuga da família Espírito Santo para o estrangeiro depois do 25 de Abril (que demonstra a “fibra patriótica” dos grandes capitalistas). O convite de Mário Soares, ainda antes de assumir publicamente o seu objectivo de privatizar a banca, a que a família Espírito Santo voltasse a investir em Portugal, criando um novo banco, uma vez que ainda não era possível privatizar as empresas nacionalizadas, como prelúdio da posterior privatização. Depois, é o que já conhecemos: o tal triunfalismo, o tal liberalismo (sempre com um olho nas negociatas com os governos da política de direita), a tal Califórnia, a ascenção e queda repentina de um gigante com pés de barro.

Se esta história do BES não servir para mais nada, pelo menos servirá para confirmarmos aquilo que a JCP e o PCP dizem há anos: 1) que o rumo de privatização e liberalização da Economia, ao contrário do que foi propagandeado durante anos, não cumpriu nenhuma das suas promessas e afundou ainda mais o país; 2) que sim, há dinheiro, ele está é mal distribuído, que os governos de PS, PSD e CDS servem o capital e não o país, por isso optam por tirar aos trabalhadores, ao povo, à juventude, às funções sociais do Estado, para dar aos bancos e grandes grupos económicos; 3) que PS, PSD e CDS são farinha do mesmo saco e que, quando estão no Governo, aplicam a mesma política de ataque aos direitos ao mesmo tempo que beneficiam o grande capital; 4) que Portugal precisa de voltar a investir no sector produtivo e que não são os bancos privados que vão fazê-lo (basta ver que investem mais em acções nos mercados financeiros do que no financiamento às micro, pequenas e médias empresas), e que o Estado tem de recuperar os meios para apostar no desenvolvimento do país, nacionalizando os sectores estratégicos da economia.

Mais um banco “salvo”, mais um passo na destruição do país. Se não arrepiarmos caminho, nem o Espírito Santo (o verdadeiro, da pombinha) nos salva... Lutar em defesa dos direitos conquistados, lutar por uma política patriótica e de esquerda é a única alternativa que nos resta... Lutemos então!
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