1. O Governo PSD/PP apresentou um projecto de lei sobre o estatuto do aluno não
superior. O período de férias foi a altura escolhida para que a
luta que os estudantes certamente iriam realizar, devido à injustiça
desta lei, fosse minimizada. Dispensaram a discussão com os parceiros educativos,
mostrando claramente o autoritarismo que preenche este estatuto do estudante.
2. O documento está cheio de demagogia. Refere que a indisciplina deve
ser combatida com medidas integradoras, mas deixa patente que tal não
é verdade.
3. Na exposição de motivos desta proposta, o Governo atribui
a este diploma a responsabilidade de adequar a instituição escolar
às mudanças que se operaram na sociedade portuguesa. É
claro que isto não passa de um pretensiosismo, pois não seria
nunca um diploma que se aplica apenas a um agente da comunidade educativa (os
estudantes) que poderia operar esta adequação. No nosso entender,
isso só seria alcançado com uma verdadeira reforma curricular,
que ajustasse os programas e as metodologias pedagógicas às necessidades
estudantis e de desenvolvimento do País, assim como a reposição
da gestão democrática das escolas, assente em órgãos
colegiais e com a participação de todos os agentes educativos,
entre outras medidas.
4. As razões que o Governo PSD/PP dá para a insegurança
e indisciplina são o alargamento da escolaridade obrigatória,
a massificação da educação e a entrada de imigrantes
em Portugal. Daqui podemos ver a posição racista, xenófoba
e elitista que o Governo toma. Os problemas que geram o insucesso são,
no nosso entender, a precarização do emprego, o desrespeito pelos
direitos laborais dos trabalhadores, nomeadamente ao nível dos salários
e horários de trabalho, que têm a ver com a miséria e a
pobreza a que estão sujeitas muitas famílias. Tem a ver também
com o sub-financiamento dos vários níveis de ensino, com a degradação
do parque escolar, com o encerramento de inúmeras escolas e com a desadequação
curricular dos programas leccionados. Os verdadeiros problemas são completamente
postos de lado, preferindo, à moda do antigo regime fascista, a disciplina
rígida em que os direitos são dispensáveis.
5. No ensino básico, actualmente, um aluno não chumba por faltas,
ora no novo estatuto do estudante, o aluno fica retido quando atinge o limite
de faltas. Quando neste mesmo projecto se refere que o abandono escolar tem
como único culpado os alunos (excluindo questões sociais, desadequação
dos programas…) porque faltam às aulas, decide-se resolver este
problema chumbando o aluno por faltas, como que se fosse essa a forma do integrar
e ganhar para a conclusão da escolaridade obrigatória.
6. O direito de representação através das Associações
de Estudantes, pelo qual os estudantes tanto lutaram, não consta deste
documento, onde apenas se fala no delegado de turma e no representante na Assembleia
de Escola. Esta escola planeada pelo Governo é portanto uma escola em
que existem estudantes que cumprem regras e valores rígidos. Este não
é o modelo de escola que desejamos. Queremos um sítio onde aprendamos
e onde possamos participar activamente, através da AE, nos órgãos
da escola.
7. Este projecto-lei baseia-se na disciplina, tornando-a o centro da vida
da escola, criando instituições em que as liberdades dos alunos
são violadas, seja pela possibilidade do uso de fardas, seja pela obrigatoriedade
de permanência na escola durante o horário escolar, excepto se
o encarregado de educação der autorização do contrário.
Este tipo de escolas-prisão em que os jovens não podem ter os
seus direitos (e em que mesmo a sua procura é censurada) é o modelo
que este Governo de direita pretende, mas que obviamente não serve aos
alunos. A disciplina é bastante marcada por medidas repressivas e autoritárias,
em vez de apostar em processos de integração e resolução
ou minimização de possíveis problemas relacionados com
a comunidade onde o aluno se insere. O Ministério da Educação
apresenta como soluções para problemas como a exclusão
social e a pobreza (que são as verdadeiras origens da indisciplina nas
escolas) o autoritarismo, apresentando como medida de integração
na escola a transferência. Apesar de a autoridade dos professores ser
necessária, não podemos cair no autoritarismo que traz repressão.
Assim a escola em vez de um sítio onde se aprende, passa a ser um sítio
de repressão e de disciplina rígida.
8. A facilidade de aplicação de medidas é demasiado grande,
pois agora os professores vão fazer o que antes tinha que passar pelo
Conselho de Turma, que implicava a defesa do aluno em causa. Isto pode causar
abusos de poder por parte dos professores ou uma opção pelo mais
fácil, a repreensão, em vez do mais correcto e talvez mais eficaz,
a integração na escola.
9. Surgem novas medidas como a possibilidade de introduzir fardas nas escolas,
que se tornam um atentado às liberdades dos alunos. Apresenta-nos também
uma possibilidade deixada em aberto pelo Governo numa afirmação
muito vaga, que é o respeito activo pela bandeira e pelo hino, o que
pode implicar que os alunos de manhã todos os dias tenham que cantar
o hino e assistir ao hastear da bandeira, como se fosse essa a forma de resolver
os problemas da indisciplina na escola. Isto é no mínimo ridículo!
10. A avaliação das escolas é concretizada nesta lei
criando a abertura para que se criem quadros de honra dos alunos, o que irá
provocar desigualdades e descriminações, passando a haver alunos
de segunda. Estes seriam à partida limitados por um estigma que tornaria
mais difícil a sua recuperação.
11. Esta proposta pretende, portanto, tornar a disciplina o centro da vida
da escola. Contra isso, vamos lutar e impedir o avanço claro da direita
e a regressão dos nossos direitos! A luta continua! Contra governos com
políticas de direita que apenas pretendem agradar aos grandes capitalistas
desprezando o povo e os estudantes.
Coordenadora Nacional do Ensino Secundário da JCP |